14. Todas elas juntas (1)

Todas elas juntas num só ser









A primeira (e até hoje única) vez que tive a oportunidade de conversar pessoalmente com Lenine foi após um show que ele fez em Belo Horizonte.

Estava eu na fila, junto as fãs que esperavam para falar com ele, quando uma das meninas que estava na nossa frente lamentava o fato de não ter trazido uma máquina fotográfica para registrar aquele momento raro em sua vida.

Bem, dispondo de uma máquina coigo, resolvi fazer minha boa ação do dia, ou melhor, da noite. No entanto, aquela não seria a única boa surpresa que a noite reservava para aquela fã. Ao queixar-se, junto ao Lenine, do fato de não exitir nenhuma música que tivesse o nome dela como tema, ele discordou cantando-lhe o trecho de uma canção que ela deve se lembrar ainda hoje.

Este acontecimento particular, e a simpatia com que Lenine recebeu meus primeiros textos sobre as suas músicas, conveceram-me que há um interessante vínculo entre o artista e suas composições, pois, naquele momento, vi que a sabedoria, a humildade e a sensibilidade de que falam suas canções também estão presentes no seu jeito de ser.

Depois deste encontro, continuei a escrever outros textos das suas músicas. Nesses textos, procurei tratar dessas características humanas e musicais em muitas de suas canções, particularmente naquelas que fazem parte do álbum InCité.

Agora, no entanto, gostaria de me deter sobre uma cuja letra encontra-se relacionada a este episódio, que narrei no início desse texto: da noite em que uma fã ouviu seu nome sendo cantado por alguém que ela já admirava muito. Esta canção chama-se "Todas elas juntas num só ser".

Quando escrevi sobre a canção "Relampiano", eu havia dito que a convivência entre alegria e tristeza é um dos elementos essenciais da música popular brasileira. E a canção de Lenine honrava essa tradição.

Entretanto, outro aspecto típico da MPB é o tema do amor romântico, ou melhor, do amor e seus desdobramentos: encontros, desencontros, declarações, protestos de ingratidão, etc. Tome-se, por exemplo, a obra de Chico Buarque. É certo que ele possuia belíssimas canções políticas de protesto, sobretudo contra a ditadura, mas o que faz mesmo sucesso hoje em dia são suas canções que falam do amor - com o curioso detalhe de narrar as situações sob a perspectiva de uma mulher.

Não raro, as música de Chico trazem nomes de mulheres no tema ou mesmo no título. Alguns anos atrás, eu estava conversando com uns amigos justamente sobre esse aspecto. Aliás, muito proveitoso para quem já se enamorou de uma Carolina, Cecília, Teresa, etc.

Mas, se o nome da amada não consta no repertório de Chico, pode-se ainda procurar entre Ligia, Luiza e outras da musas da MPB que generosamente pode contribuir para ajudar os homens a se declararem e para tornar as mulheres mais felizes.

Infelizmente, parece que algumas músicas se perdem no tempo. Além daquela canção que trazia o nome da fã de Lenine, há também uma lidna canção chamada Luciana que eu a ouvi, por completo, num único momento da minha vida: no casamento da irmã de um amigo meu. Sim, adivinhem como ela se chamava?...

"Todas elas juntas num só ser", a faixa de número oito do álbum InCité de Lenine, faz então um apanhado enciclopédico dessas musas da MPB. A letra ficou enorme e, cá entre nós, creio que Lenine considera um grande feito de memória cantá-la de cor e no ritmo elaborado para esta música. Ao menos, eu não somente considero como uma realização intelectual como, também, um grande feito (além de uma homenagem) à MPB e suas mulheres maravilhosas que sempre a inspirou e a promoveu.